Benito Valencia Bouza
A alma mater do Sindicato Campesino de Souto, nasceu em Farnadeiros a 12 de maio de 1910.
Filho de Manuel Valencia [natural de Lóvios de Sever] e Dolores Bouza [natural de Farnadeiros], com domicílio em Güimil, estava casado com Digna Portela Penín . Quando foi assassinado deixou orfa umha nena de oito anos de idade chamada Obdulia. A causa oficial da morte que aparece na ata de defunçom é “destruçom da massa cerebral”. Foi executado polos falangistas nas redondeças de Ginzo, na Ponte do Boado, a pouco mais de quilómetro e meio do centro da capital limiá.
Diversas fontes orais identificam a Manuel Ogea Campos “Mica” e a Celso Pérez, popularmente conhecido como o Celso “do crime”, como os dous pistoleiros autores da execuçom do dirigente comunista e sindicalista agrário.
José Benito Rodríguez Valencia, um dos seus netos, lembra como um xastre originário de Burgos, que arrastava umha inconfundível coxeira, desterrado em Ginzo pola sua militáncia comunista, teria manifestado em mais de umha ocasiom a sua avó Digna, que “sabemos quien puso el traje y quien tiene el reloj”, referindo-se a que esses dous sicários teriam ficado com o traje e com o relógio de ouro que Benito Valencia Bouza trouxera da Argentina.
Benito Valencia Bouza, com tam só dezaseis anos, vai para Lisboa onde reside um ano na casa de um tio que trabalhava de estivador no porto da capital portuguesa.
Desconhecemos quando assome consciência política, se antes de marchar para a emigraçom, durante a sua estadia de um lustro na capital argentina, ou bem a sua volta, em pleno biénio negro republicano e repressom governativa, após fracassar a tentativa revolucionária de outubro de 1934.
Possivelmente era um dos seus quadros mais destacados do PCE no concelho de Moinhos, do que era Segundo Tenente de Alcaide. Além de trabalhar de funcionário no Concelho, era a peça chave da Frente Popular, exercendo de homem forte da Gestora Municipal de clara hegemonia comunista, presidida polo Demetrio Seoane .
As razons da prematura emigraçom a Buenos Aires [Argentina], com pouco mais de 18 anos, portanto à volta de 1928, foi a necessidade de obter fundos económicos para a compra de umhas terras na vizinha aldeia de Farnadeiros. A metade da década dos anos vinte, dous irmaos conhecidos como os “Froitos” assassinaram umha tia política de Benito Valencia Bouza. Após rozar sem autorizaçom os tojos de um monte propriedade da vítima, logo de que esta os cargasse num carro, matárom Higinia Gómez a sangue frio. Nada mais se soubo destes dous individuos após fugar-se. As suas propriedades fôrom embargadas polos Julgado e posteriormente subastadas. A família de Benito Valencia optou à compra de umha delas, conhecida naquela altura como “O ameiral”, mas posteriormente passou a ser designada como “A cortinha”.
Emigra a Buenos Aires ao longo de 1928, no período imediatamente pévio à Grande Depressom, pois Digna estava grávida da Obdulia. No regulariza a sua situaçom com Digna até 13 de maio de 1935, contraíndo matrimónio civil passados muitos meses após regressar da Argentina.
No período da emigraçom trabalha de camareiro no setor da hotalaria, embora nom é descartável que tenha exercido outras profissons, ou combinando diversos trabalhos que lhe permitissem girar com regularidade cartos para a sua família de Güimil. Graças a estas remessas foi comprada a máquina de coser com a que a sua mulher Digna realizava tarefas de costura para algumhas das famílias mais destacadas do concelho e da comarca, contribuindo assim à economia familiar.
“O teu avô era mui moderno” escuitou José Benito em várias ocasions à sua avó, pois “cozinhava enquanto eu realizava tarefas do campo, lavava e penteava a tua mae”. Este dado nom é em absoluto irrelevante, exprime a coerência da vida privada de um militante comunista que colaborava nas tarefas domésticas numha altura onde as transformaçons nos hábitos patriarcais começavam a agromar.
Embora nom tinha cursado mais que os estudos primários, possuia umha enorme capacidade de aprendizagem e inteligência natural. Sabemos que impartilhava aulas noturnas à crianças de Güimil, e mesmo substituia Jenaro Martínez Durán, quando por razons de saúde ou pessoais, nom podia assistir à escola primária de Mugueimes o seu grande amigo e mestre. As atas do Sindicato que elaborava exprimem umha bela caligrafia, algo difícil de encontrar na documentaçom da época.
Sem lugar a dúvida o seu nome formava parte da lista de militantes a capturar e deter pola Guarda Civil e os Carabineiros, seguindo a ordem emitida por Luis Soto, chefe militar de Ourense contra “todos os elementos destacados pola súa militancia esquerdista”.
Segundo as fontes familiares citadas, tentou sair para o exílio via Portugal. Foi acompanhado polo caminho da Reboreda pola sua mulher Digna Portela. Jantárom numha fonte e quando oscureceu ela regressou para Güimil e Benito Valencia Bouza dirigiu-se na procura de refúgio na casa de uns parentes em Meaus, umha das três aldeias do desaparecido Couto Misto. Tinha previsto sair posteriormente para Chaves, onde colheria um combóio para Lisboa, onde o estaria aguardando o seu tio. Mas foi delatado por alguém que o identificou e entregue aos falangistas, quem o levárom para Ginzo, onde após estar “detido” dous dias numha fonda da capital da Límia , foi executado. Todo indica que nessas 48 horas foi submetido aos caraterísticos “interrogatórios” dos fascistas.
A sua casa familiar em Güimil, onde o Sindicato Campesino de Souto tinha a sua sede, estivo mui controlada e vigiada, sendo durante anos habituais as visitas intimidatórias de falangistas e da Guarda Civil. Segundo nos tem relatado José Benito Rodríguez Valencia, o fascismo tentou infrutuosamente confiscar as propriedades familiares. Em diversas ocasions umha comissom estivo em Güimil para requisar as terras, mas afortunadamente o expediente foi arquivado.
Até a década de cinquenta era habitual que a parelha da Guarda Civil que patrulhava a zona pernoctasse na casa familiar de Güimil, ceando e aquecendo-se gratuitamente na sua lareira. Mais umha expressom das humilhaçons acrescentadas que tivérom que suportar os familiares das vítimas do fascismo.
[Texto extraído do livro “Sindicato Campesino de Souto, Val do Límia”, da autoria de Carlos Morais, que editará o Comité pola Memória Histórica do Val do Límia, e sairá do prelo no mês de julho]