Manifesto pastoril aos nenos pobres do campo
Divulgamos a traduçom realizada por Íria Moreiras do “Manifiesto pastoril a los niños pobres del campo”, escrito polo dirigente do PCE Manuel Gómez del Valle, que será recitado na homenagem a Benito Valencia Bouza o vindouro sábado 1 de agosto, às 17.30h em Güimil.
Fermoso e estremecedor poema de 48 versos livres publicado por primeira vez na revista pontevedresa Cristal em outubro de 1932, posteriormente reproduzido no número 13 de “Escuela del Trabajo” [1933], boletim da ATEO.
No poemário publicado na revista da ATEO asinala-se que estes versos formavam parte de “Pasquines”, livro em “preparación”.
Antón Tovar, que traduz ao galego 16 versos do poema no livro “A grande ilusión e outros contos”, Vigo, Galaxia, 1989, considera que segue ”agachado, calado, e así estaría durante moitos anos, agardando polo día en que resuciten as alegres bandeiras vermellas”.
Manuel Gómez del Valle, após participar no corte das linhas telegráficas frente à Casa do Povo, na rua do Progresso de Ourense, à beira do surtidor de gasolina do jardim do Possio, quiçás o primeiro episódio da resistência operária e popular, foi detido pola Guarda Civil em Ginzo de Límia 21 de julho de 1936, quando se dirigia à Gudinha, em companhia do socialista Fernando Cordón García, para organizar a resistência ao fascismo e procurar armas.
Executado com os olhos descubertos, no campo de Aragom do quartel de Sam Francisco de Ourense, às 6 horas do 11 de agosto de 1936, foi o primeiro fusilado na província de Ourense.
A sua mae, Maria del Valle Lozano, encarcerada na prisom de Cela Nova, foi sacada do penal em companhia de Salud Torres Díaz, e executadas 29 de outubro na Lomba de Lamas [Ginzo de Límia].
MANIFESTO PASTORIL AOS NENOS POBRES DO CAMPO
NENOS descalços das escolas do campo.
Dos caminhos do campo.
De todo o campo.
Abrumados baixo três océanos de sol, no verao;
e cento cinquenta icebergues escorregados do Polo Sul no inverno.
Sol, frio -sempre descalços-
Frio, sol-sempre espidos-
Baixo a chuva da vossa melancolia,
a cidade é o tamboril onde tremem todos os ruídos
das atraçons…
onde os nenos senhoritos comem as vossas maçás
-sim as comem, também jogam com elas à pelota-
Aos nenos senhoritos sobram-lhes as vossas maçás
que vós vedes partir da horta, umha cima dumha…
-pelotas de ouro que arrubiou o sol ao verter-se perpendicular e morno-
Se os vossos olhos remelosos tivessem ímam
quedariades com as mais vermelhas
porque as vichedes crescer a boia da primavera florescida.
Os nenos senhoritos da cidade, nom sabem como começam
a nascer as vossas maçás.
-Só sabem comé-las-
Se os vossos olhos remelosos tivessem ímam
quedariades com as mais vermelhas
porque as vichedes desembarcar da primavera inflamada.
Os ignorantes nenos da cidade, bebem-se o vosso leite
-apenas sim sabem tomá-la, repugnantes, sorvo a sorvo-
Nada sabem de onde se fai manar,
porque nunca vírom copular as vacas
em quanto no monte pascem ao teu cuido.
Nenos pobres do campo,
na cidade, há também nenos
pobres que tenhem fame.
Que tenhem muita fame!
QUE NOM TENHEM LEITE NEM VERMELHAS MAÇÁS!
UM DIA, CEDO, JUNTAREDES-VOS PARA REPARTIR-VOS TAM RICO LEITE E TAM
VERMELHAS MAÇÁS.
ENTOM É QUE TERÁ REMATADO A INJUSTIÇA.
…E seguiredes pastoreando as vossas vacas,
e que copulem muito
para que tenham leite todos os nenos pobres.
E já lavados os vossos olhos
em fontes de orvalho, em lagoas de lua,
sem enveja, sem enveja,
veredes partir as vossas maçás
que vichedes pendurar das sombrinhas florescidas da Primavera inflamada.
NENOS POBRES DO CAMPO, UM DIA JUNTAREDES-VOS
PARA REPARTIR-VOS TAM RICO LEITE,
TAM VERMELHAS MAÇÁS.