Constantino Fernández Martínez
Conhecido polo alcume do “catalám”, vizinho de Güimil, foi o presidente do Sindicato Campesino de Souto. Tinha estado emigrado em Cuba e na Argentina. Trabalhava no campo.
Posteriormente ao triunfo do golpe fascista, o grupo de sicários falangistas de Bande, dirigidos polo Fragueira, que impunemente sementárom durante anos sangue e terror polo Val do Límia, logrou capturá-lo após diversas tentativas falhidas. Inicialmente foi detido pola Guarda Civil e trasladado ao aquartelamento de Ginzo de Límia onde estivo dous dias “emprestando declaraçom”.
No dia no que voltava para a sua residência em Güimil pola estrada de Souto, foi visto por vizinhos de Farnadeiros que paciam vacas. Algum deles teria avisado ao Fragueira. Essa mesma noite chamou à porta da casa o chefe do sicariato fascista, acompanhado por outro falangista conhecido como o Faustino.
Na estrada de Souto aguardava o taxista de Bande conhecido como Damasito. Embora republicano e antifascista, era obrigado polos falangistas a ceder o seu veículo e exercer de chófer na captura das vítimas que iam ser ultimadas. “Em tal sítio simulas umha avaria no carro, sais e abres o capó, e nós saímos para passear”. Assim era o modus opeandi desta quadrilha de criminais.
Nessa noite após ser capturado, foi introduzido algemado no veículo e levado a um monte próximo a Güim pola estrada da Feira Nova [Ponte Linhares], para ser executado. Segundo as fontes citadas, foi perto da casa inacavada do Domingos, vizinho do Ribeiro [Bande], a uns centos de metros de chegar a Güim o carro “avariou”, momento no que os quatro ocupantes saírom com o Constantino para a estrada.
O presidente do Sindicato tivo o sangue frio e a habilidade de solicitar fumar um cigarro como última vontade. Segundo se transmitiu pola memória oral, o criminal do Fragueira autorizou este desejo, “da-lhe um cigarro que o lume já lho dou eu”.
O Constantino era um homem alto, à volta de 1.80 m, corpulento e forte, mas também era um homem “mui templado, de sangue avinagrado”. Num despiste dos seus captores, golpeou-nos, caindo a rolos monte abaixo, ferindo-se nas maos e cara no arame de espinho que reforçava as sebes, logrando fugir por umha “canelha”, para posteriormente cruzar o rio Límia para a margem sul, polas poldras da Retorta. Colheu rumo Portugal em direçom o santuário dos Milagres de Couso de Salas [Moinhos], e pola estrada de Calvos de Randim chegou até Padroso de manhá, após umha longa caminhada noturna. Solicitou a um homem que tinha vacas pacendo que lhe cortasse as algemas. Este foi a casa e voltou com umha serra com a que o libertou. Nom lhe quijo dizer quem era, mas anos depois o Constantino localizou-no para agradecer ter-lhe ajudado.
Atravessando montes, agochando-se polas aldeias raianas, logra acubilho em Tourêm, e de aqui foi para Currais, instalando-se na Venda Nova, no concelho português de Montalegre, onde estivo refugiado oito anos trabalhando na casa de lavrança dessa fértil aldeia barrosá, em troques de alojamento e comida, da que lembrava que o milho dava três, quatro e até cinco espigas. Segundo posteriormente contava, durante a travessia passou muita fame, até que um vizinho lhe levou pam com touzinho.
Dias depois de encontrar onde instalar-se decidiu voltar a Güimil para tranquilizar a família. Entre as verzas da horta do Regejo, também conhecida com da fonte do Eido, deixou umha nota. “Estou vivo” ou “estou em Portugal” foi a menssagem que encontrou a sua mulher, Gumersinda Corral Sabugueiro, quem meses mais tarde, logo de averiguar onde estava por meio de algum vizinho de Tourêm, visitava-o com regularidade até a Venda Nova para lhe levar roupa. Saia pola tarde e chegava ao dia seguinte pola manhá atravessando a pé por Pitões os montes do sul da Gallaecia central.
Já na manhá seguinte da sua captura polo Fragueira, a sua filha maior, Delmira Fernández Corral, acompanhada dumha prima, percorrérom a estrada de Souto, buscando nas cunetas o seu corpo. À altura de Paradela de Aveleda [Porqueira] encontrárom a caravana de veículos da Falange. “E ti de quem es” perguntou-lhe o Fragueira à rapaza. “Vai pra casa, deixamo-lo escapar”, teria respondido após a identificaçom da Delmira. O orgulho ferido do sicário nom teria reconhecido a habilidade e coragem do Constantino para safar-se dumha morte segura naquela noite estrelada do verao de 1936.
Posteriormente, raivosos e frustrados por nom terem logrado executá-lo, comencárom a perseguir e intimidar em Güimil à Gumersinda e também ao Enrique, o filho maior, quem optou por desertar a Portugal para nom ir ao frente combater no exército franquista. “Era da quinta do 40, quando anos depois voltou estivo três anos em Barcelona fazendo o serviço militar”.
A Gumersinda estivo um ano com o seu marido na Venda Nova, deixando a sua filha intermédia de tam só trece anos, Delmira Fernández Corral, a cargo da casa, dos animais e propriedades, e do cuidado dos seus irmaos pequenos América e José.
Segundo as fontes familiares consultadas, o Constantino voltou à volta de 1944 para o Val do Límia, regularizando a sua situaçom. A derrota impingida ao nazismo polo Exército Vermelho em Estalinegrado [fevereiro de 1943], e o colapso prisional do franquismo, que tinha transformado a Galiza num imenso campo de concentraçom, facilitárom “normalizar” a situaçom dos republicanos quem nom tinha “delitos de sangue”. Provavelmente acolheu-se ao indulto de 9 de outubro de 1945 “por delitos de rebeliom militar cometidos até 1 de abril de 1939” do que ficavam excluídos “casos de crueldade e morte”. A legislaçom franquista aprovada desde fevereiro de 1939 perseguia aniquilar a resistência antifascista e complementar o genocídio .
Constantino Fernández era meio irmao de José Álvarez Fernández, também filiado ao Sindicato Campesino de Souto, executado nas touças de Sam Pedro 14 de setembro de 1936, num lugar situado aproximadamente onde tinham lugar as festas patronais de junho, entre os atuais tubos que levam a água do Salas para a central elétrica de Moinhos e a reitoria da igreja paroquial, à beira da atual OU-1202.
[Texto extraído do livro “Sindicato Campesino de Souto, Val do Límia”, da autoria de Carlos Morais, que editará o Comité pola Memória Histórica do Val do Límia, e sairá do prelo no mês de julho]