Moinhos republicano e antifascista

Sexta-feira 25 entrou no prelo o sexto volume dos monográficos de investigaçom editados polo Comité pola Memória Histórica do Val do Límia.
O livro intitulado ‘Moinhos republicano e antifascista’ consta de 365 páginas e centenares de fotos e documentos, umha boa parte deles inéditos.
É resultado de anos de recopilaçom de informaçom, e basicamente dumha investigaçom iniciada de forma sistemática no último ano.
Este livro foi um repto para mim, objetivo que devo confesar nom logrei superar integramente, tal como tinha previsto.
Lamentavelmente nom dispugem do tempo necessário para poder processar toda a informaçom recopilada, explorar novas fontes, estudar com mais detalhe e maior profundidade as que logrei dispor, identificar mais testemunhas, percorrer é esculcar mais território.
Nom estou plenamente satisfeito do seu resultado, pois a urgência da sua entrega provocou que tenha ficado “furrisco”, tal como se di quando algo nom está de todo bem, neste ocidental território do sul da Gallaecia central chamado Val do Límia.
Portanto, deve ser entendido e avaliado como umha aproximaçom, à que me comprometo culminar nos vindouros anos.
Elaborá-lo tem sido um exercício de enorme responsabilidade, porque umha parte dos protagonistas, mas também das fontes, som pessoas conhecidas, mesmo com vínculos familiares diretos, que acrescentam umha maior dificuldade à hora de analisar e descrever os factos históricos que pretendimos abordar com rigor.
Espero que a sua leitura sirva de estímulo para valorizar a trascendência da memória para o nosso presente e para o nosso futuro, para que agromem as valiosas fontes fotográficas, documentais, lembranças, confidências, imprescindíveis para reconstruir o Moinhos da década de trinta, quarenta e cinquenta do passado século.
Estou consciente que chego tarde a esta empresa. Demorei décadas em compreender a alma deste país, e agora que tenho mais que noçons das particularidades da alma querquenna e galega, o País vai paseninhamente esmorecendo e apagando-se, desdebuxando-se entre o desinteresse e indiferença da imensa maioria, e a doorosa impotência dos que quigessemos que a nossa cultura e identidade nacional, no sentido mais amplo e intregral, património material e imaterial-, fosse motivo de orgulho e portanto da vontade coletiva de conservá-la e perpetuá-la.
O trabalho de campo exige andar polo território, identificar lugares da memória e da infámia, falar com familiares e vizinhança. Portanto, contemplar o abandono das aldeias e dos campos de cultivo, observar como literalmente se derrumba um mundo que nom podemos idealizar, mas que é a origem do que somos, razom pola que o deveriamos salvar e preservar.
A medida que mais avanço no estudo do nosso passado coletivo, provoca-me um sentimento de admiraçom polos nossos antergos, mas também inquietude e angústia por estar assistindo ao final dumha civilizaçom lavrada a lume lento em mais de cinco mil anos, que em questom de meio século desaparece a velocidade trepidante.
Este livro incorpora partes de investigaçons prévias, concretamente o trabalho sobre o Sindicato Campesinho de Souto e a aproximaçom biográfica de Lino Tejada Rodríguez.
Som várias as linhas de investigaçom que ficárom sem abordar, ou sem a suficiente profundidade: a importância da emigraçom caribenha e latinoamericana da década dos anos ´20 à hora de cinzelar consciência de classe entre os que tinham tido que abandonar as leiras para alimentar as suas famílias, Moinhos como lugar de passo e saída dos perseguidos via Tourém, estudar a fundo como fôrom golpeadas pola repressom e pola miséria imposta polo franquismo as aldeias do sul do termo municipal, a dimensom do exílio, dos que tivérom que marchar para nom voltar ou regressar décadas depois, como se teceu mediante a combinaçom de mecanismos violentos e subtis a recomposiçom das relaçons sociais quebradas pola barbárie iniciada 20 de julho de 1936, a resistência armada antifascista.
Com esta inacabada investigaçom avançamos na confirmaçom empírica, com dados suficientemente constrastados, da tese que levo defendendo desde há mais de duas décadas e que a historiografia académica se resiste a admitir: a destacada auto-organizaçom campesinha de Moinhos estava dirigida polo partido comunista, polos seguidores de Benigno Álvarez, Marx e Lenine, que lograra estabelecer bases sólidas entre os que nada tinham que perder, salvo as suas cadeias, no território compreendido entre os Picos de Fontefria e o rio Límia.
Moinhos no verao de 1936 tinha um governo municipal configurado por jornaleiros, campesinhos pobres e artesaos, seguidores dos cálidos ventos vermelhos procedentes do leste da Europa. Tam entusiasta como inexperta Corporaçom que tentou em pouco mais de quatro meses demonstrar que sim é possível governar para os que durante centos de anos tinham sido condenados à pobreza e à invisibilidade.
A fotografia que ilustra a capa reproduz à perfeiçom a morfologia de classes das primeiras três décadas do século XX. Umha sociedade mais próxima à etapa feudal que ao modo de produçom capitalista. Onde umha imensa maioria social de labregos altamente empobrecida seguia mantendo umha relaçom de vasalos com a pós-aristocracia rural.
Agosto 28, 2023