Breves apontamentos biográficos de Víctor García García ‘Brasileiro’ 1908–1948

‘Os proletários de corpo e da inteligência poderiam engalanar o Universo’
O ‘Brasileiro’ foi um experimentado quadro político-militar comunista que dirigiu o germe insurgente que operou entre 1939 e 1943 no Val do Límia, empregando Castro Laboreiro como base de umha das primeiras experiências da resistência armada galega.
Durante os anos nos que comandou politicamente a luita guerrilheira empregou diversas identidades. Em Castro Laboreiro era conhecido como ‘Manolo Dente d´ouro’.
Victor García García nasceu em Muriellos, Bárzana de Quirós [Astúrias] 20 de setembro de 1908.
Emigrou de jovem, em 1924, com a sua família para o Brasil, instalando-se na cidade costeira de Santos, estado de São Paulo, compaginando o trabalho na construçom civil com estudos de contabilidade.
Prévio passo polo anarquismo incorporou-se em 1926 à militância no clandestino Partido Comunista Brasileiro [PCB].
Ferido após a repressom policial contra um mitim internacionalista, em 1927 é detido e encarecerado na ilha dos Porcos, da que logra fugar-se em 1932.
Capturado pola policia, é torturado antes de ser expulso do país 23 de novembro de 1933 no paquebote ‘Bagé’, com destino Vigo.
REGRESSO A ASTÚRIAS
Instala-se na casa do seu irmao Manuel em Oviedo.
Imediatamente incorpora-se ao PCE, formando parte do Comité Central da organizaçom asturiana.
Participa ativamente na Revoluçom operária de outubro de 1934 que permitiu durante semanas exercer o poder proletário até que foi sufocada a ferro e fogo polo exército e a Guarda Civil.
Detido 12 de outubro em Potes, é encarecerado 27 de novembro no barco-prisom ‘Alfonso Pérez’, fondeado em Santander. Posteriormente cumpre condena na Modelo de Oviedo, no cárcere do Dueso, na fortaleza de S. Cristóbal de Pamplona, novamente na Modelo de Oviedo e na prisom central de Burgos, até que atinge a liberdade 18 de janeiro de 1936, um mês antes do triunfo da Frente Popular nas históricas eleiçons de 16 de fevereiro.
Casa em Colombres, Astúrias, 28 de junho de 1937, com a também militante comunista María de los Ángeles Fernández Roces.
GUERRA 1936-1939
Até o 19 de julho é o chefe das Milícias em Oviedo, e após o triunfo do golpe militar fascista iniciado 18 de julho de 1936, durante a guerra de classes de 1936-39 adquire formaçom militar na Academia de Comissários de Guerra de Santander, combatendo na frente asturiana, exercendo de Comissário no Batalhom ‘Sangue de Outubro’. Nesta unidade participa na defesa de Biscaia. Polos seus méritos militares um dos batalhons da XII Brigada passa a denominar-se Batalhom “Víctor” A-208.
Após a queda da frente norte combate na Catalunha, atingindo a responsabilidade de Comissário político da Brigada Mista 102 configurada com efetivos internacionalistas, integrada na 43 Divisom do Exército Popular Republicano [EPR].
Participa na batalha do Ebro, e após a queda da Catalunha exília-se na França. Superando a amargura da derrota aceita em Paris as instruçons da direçom comunista.
PORTUGAL
A finais de 1939 entra clandestinamente em Portugal enviado pola Internacional Comunista com três grandes objetivos.
Colaborar na reconstruçom do PCP fracionado em duas correntes, criar um corredor de saída para os camaradas que deviam abandonar o território do Estado espanhol, e simultaneamente contribuir para a reconstruçom da seçom galega do PCE.
Em Castro Laboreiro, ‘Manolo Dente d´ouro’ organiza basicamente com fugidos galegos e asturianos, a primeira experiência de resistência armada ao franquismo que opera no Val do Límia.
A início de maio de 1943 opta por abandonar Castro Laboreiro logo de um incidente na taberna da Mancheta na que para evitar ser detido dispara a um Guarda Fiscal com resultado de morte.
GALIZA
Anos de dedicaçom e entrega, unido à sua imensa capacidade organizativa, indiscutível carisma e liderato, som méritos mais que suficientes que permitem compreender o reconhecimento coletivo dos seus camaradas polos avanços atingidos na recomposiçom da estrutura do partido comunista, que culminam com o congresso nas minas de wolfrámio do Fontao (Silheda), no que é eleito secretário geral do partido comunista na Galiza em outono de 1943.
Perante a pressom policial em junho de 1944 instala o Comité Galego em Vigo, centrando-se na reorganizaçom do PCE na Galiza e impulsionar a resistência político-militar contra a ditadura franquista.
É nesta altura quando Gelina e o seu filho Víctor abandonam Sama de Langreo para instalar-se clandestinamente numha casa no bairro viguês do Calvário.
Nessa altura o ‘Brasileiro’ residia numha vivenda nessa mesma cidade, nos arrabaldos de Sam Joám do Monte, logrando evitar a sua detençom 25 de maio de 1944.
Posteriormente, a finais de 1945, com a chegada a Galiza de José Gomes Gaioso, António Seoane Ramos e Manuel Blanco Bueno, Vítor García foi afastado da direçom do partido, acusado de ‘monzonista’.
Opta por abandonar Vigo para procurar refúgio na comarca do Deça. Instala-se em Bandeira com apoio da militáncia comunista da zona.
ASSASSINATO
Paradoxalmente o ‘Brasileiro’ foi assassinado 3 de fevereiro de 1948, no lugar de Rio do Porto, na paróquia de Moalde-Quinteiro (Silheda) num acerto de contas interno do PCE, a consequência de umha depuraçom ordenada pola direçom encabeçada por Santiago Carrillo e Dolores Ibárruri.
“Por fin lo cazamos” é a formulaçom empregue no informe interno do PCE.
Após anos de perserverantes pescusas a sua família logrou encontrar o lugar onde está enterrado. Em março de 2009 foi instalada umha placa no cemitério de Sam Mamede de Moalde, por cima dos seus restos.
Victor García filho logrou conhecer José Fuentes nas proximidades onde tinha sido injustamente executado. Este vizinho que lembrou como sessenta anos antes ajudou a elaborar o cadaleito, contando como encontrárom o cadáver graças aos cans que um grupo de homes levavam de caminho ao moinho de Rio do Porto. Perante os ladridos um dos vizinhos seguiu-nos monte arriba até umha cuneta onde estava o corpo, meio comido polos bichos, co colo secionado e parcialmente separado do tronco, tapado por umhas follas. Que o cubrirom cuns lençóis e deixarom-no à beira da igreja. Que alguém pediu madeira para fazer o cadaleito e ele levara uns taboleiros da casa. Contou-lhe que o cura ordenou fosse enterrado en zona bendita e que desde entom a tumba do ‘Brasileiro’ ficara baixo a janela da igreja. Que eles nunca soubérom o que passara.
Por méritos indiscutíveis o nome de Víctor García García ‘Manolo Dente d´ouro’ ou o ‘Brasileiro’, está gravado na bravura do frontispício granítico da serra do Jurés, como parte da melhor memória coletiva de Castro Laboreiro e da mais elaborada resistência e luita antifascista do Val do Límia.
Viva a resistência e a luita antifascista!
Viva o ‘Brasileiro’!
Honra e glória camarada1
Val do Límia, Galiza, 11 de agosto de 2024
Para mais informaçom consultar o blogue https://victor-garcia-garcia-el-brasileno.com/
Agosto 13, 2024