Albino Gómez Rodríguez, confirmado nova vítima do fascismo

Após meses de investigaçom confirmamos o que o historiador alemam Hartmut Heine afirma na obra referencial ‘A guerrilla antifranquista en Galicia’, publicada por Xerais em 1982.

“Na banda occidental da provincia [Ourense], nas comarcas que constitúen un saínte no territorio portugués ó suroeste de Bande, xurdira un grupo poucos anos logo da guerra que capitaneaba Albino Gómez Rodríguez, chamado O Albino ou O Moreiras. O groso deste grupo, incluídos o xefe e o seu lugartenente, Gumersindo Fernández Incógnito, compoñíase de campesiños procedentes das comarcas de Muiños e Lobios; e tamén, como ocurría en case tódolos grupos que operaban no sur de Ourense, de portugueses, represaliados políticos e ex-combatentes que fuxiran do seu país”. [Página 168].

“De tódalas partidas reseñadas foron tan só esta e as acaudeladas por Albino Gómez e Manuel Álvarez Silva as que Samuel Mayo logrou incorporar á flamante II Agrupación”. [Página 169].

Porém, antes de realizar umha primeira breve aproximaçom biográfica do Albino Gómez Rodríguez, cumpre corrigirmos ao professor alemám, quando incorretamente o responsabiliza de participar numha série de operativos em 1949, concretamente um confronto com a Guarda Civil 23 de fevereiro desse ano, e a açom de castigo contra a casa reitoral do pároco de Couso de Salas (Moinhos). [Página 213]. Mas nessa altura o Albino já tinha sido executado, tal como mais adiante indicaremos.

O episódio que ainda lembram os mais velhos da comarca involucrou a um dos curas da  bisbarra mais identificados com o falangismo, o monfortino Félix Juan Casanova Rodríguez. Residente em Calvelo e cura da paróquia de Couso de Salas, quando passava a cavalo polo lugar das Quintás de Sabucedo (Porqueira), 16 de fevereiro de 1949, anima à Guarda Civil queimar a casa de Epifanio Feijoo Gándara, onde tinha sido localizada parte dumha unidade guerrilheira. Como vingança foi queimada 22 de fevereiro a casa reitoral numha açom de castigo encabeçada polo legendário Juan Sorga.

Albino Gómez Rodríguez

Nasce no bairro da Moreira de Mugueimes, concelho de Moinhos, 13 de abril de 1914. Filho de Camilo Gómez León, de 44 anos e natural de Mugueimes, e de Flores Rodríguez, de 21 anos, natural de Bande.

Neto por linha paterna de Carlos Gómez, natural de Prado e de Josefa León Pérez, natural e vizinha de Mugueimes. Por linha materna, neto de Pedro Rodríguez e María González, ambos naturais de Vilar de Cas (Moinhos) e residentes em Vigo.

As lamentáveis condiçons materiais da imensa maioria da povoaçom de Moinhos na década dos anos ’30, onde 65.7% dos habitantes viviam na pobreza, era mais agravada no seio desta humilde família de labregos e jornaleiros.

O Albino compaginava os trabalhos agrícolas com atividades ilegais para poder sobreviver. Foi detido 15 de setembro de 1934, acusado de participar em companhia de Francisco López, de Paços (Moinhos), e do seu irmao Ramón Gómez, no roubo de carnes na Feira Velha (Entrimo).

O jornal viguês “El Pueblo Gallego” de 11 de março de 1936, notícia que foi detido com Juan Rodríguez González e Gumersindo Rodríguez ‘los cuales habían penetrado en las iglesias de Muiños y Cados, llevándose de los cepillos 38 pesetas. Pasaron después al pueblo de Pinos [Pinhoi] y se apoderaron de cuatro tocinos que dejaron abandonados al ser perseguidos por Manuel Rodríguez Álvarez’.

Tal como aparece recolhido na Causa 487/46, que se pode consultar no Tribunal Militar Territorial nº 4 de Ferrol, cumpriu 22 meses de condena por contrabando e roubo de cavalos em Calvelo (Moinhos) em 1942, propriedade de um capitam retirado da Guarda Civil residente em Couso de Salas.

Participa na Guerra Civil no bando franquista

Recrutado polo exército sublevado participa no assalto de Oviedo como soldado do Regimento de Artilharia Ligeira nº 16 da Corunha, posteriormente destinado ao Regimento de Artilharia nº 2 de Vitoria, com quem combate na batalha do Ebro (julho a novembro de 1938).

Finalizada a guerra temos conhecimento que reside no número 46 da rua da Vega de Oviedo. Por umha carta dirigida ao coronel diretor da fábrica de Armas da Vega, datada 26 de março de 1940, sabemos que solicita trabalho alegando que ‘carece de toda clase de medios de vida y subsiste gracias a la benéfica Institución de Auxilio Social’.

Para aceder a este posto de trabalho apresenta um “Certificado de buena conducta y antecendentes político-sociales”, assinado 8 de abril de 1940 polo Chefe da Comandância da Guarda Civil de Oviedo, quem o o define como ‘afecto al Glorioso Movimiento Nacional’.

Pola livreta de racionamento do encoro do Nansa, situado em Cantábria, sabemos que em março de 1940 trabalhava na construçom desse complexo hidraúlico.

Posteriormente, tal como acredita diversa documentaçom incautada a Francisca Ocampo Carballo pola Guarda Civil em 1946, sabemos que desde 12 de julho de 1945 estava filiado ao “Regimen del Seguro de Enfermedad”, cujo número asignado polo Instituto Nacional é 39/53.119. Nessa altura trabalhava na empresa “Vías y Riegos”, [atualmente incorporada ao holding ACS] no Salto de Herrerías de Santander, com domícilio social em Puente del Arrido, concelho santanderino de Herrerías.

Um salvoconduto expedido polo Governo Civil de Leom ‘para que sin impedimiento alguno marche a Orense y regrese’, datado 23 de abril de 1946, situa-o de novo na Galiza.

Por causas que desconhecemos 26 de janeiro de 1946 comeu no hotel España de Irún, tal como acredita umha fatura deste estabelecimento de hospedagem.

Assaltos no Val do Límia

Albino Gómez Rodríguez está acusado de formar parte dumha quadrilha que 4 de junho de 1946, atraca diversos vizinhos de aldeias de Lóvios e Moinhos que procediam da feira de Porqueirós, situada no concelho de Moinhos, umha das mais importantes de toda a comarca.

O primeiro tivo lugar no caminho entre Alvite (Moinhos) e a Cela (Lóvios) à volta das 13.30 horas, e o segundo às 23 horas nas proximidades da Torrente, na estrada entre a igreja paroqual de Sam Pedro de Moinhos e Cados. Posteriormente o grupo participa numha tentativa frustrada de expropriaçom a Francisco Vázquez Rodríguez, quem circulava na estrada entre Mugueimes e a paróquia de Bargês, produzindo-se um tiroteio entre o Albino e o guarda civil de paisano que tentárom atracar.

A Causa 297/46 identifica como acompanhantes do Albino a Francisca Ocampo Carballo, de 28 anos, solteira, natural de Sam Salvador de Cortinhas (Pereiro de Aguiar), e aos cidadaos portugueses José Fernandes, de 38 anos, solteiro, jornaleiro, natural e vizinho de Chaves, e Francisco Manuel Bautista, de 47 anos, casado, barbeiro, natural do concelho trasmontano de Valpaços, vizinho de Vilarelho da Raia, aldeia de Chaves e casado com umha vizinha da Rasela, lugar do município de Verim.

Segundo declaraçom do Albino após os atracos repregarom-se para Portugal e posteriormente regressárom a Galiza por Baltar, passando vários dias na aldeia arraina de Sam Cibrao, em Oimbra. Seguidamente dirigirom-se para o concelho de Moinhos, mas Francisco Fernandes e Francisca Ocampo fôrom detidos 17 de junho de 1946 pola Guarda Civil quando pretendiam que um vizinho de Requiás (Moinhos) lhe vendesse comestíveis e bebidas.

Ingressárom na Prisom Provincial de Ourense duas dias depois. Francisca Ocampo foi condenada a duas penas de 30 anos de prisom. Até que foi indultada em janeiro de 1958 cumpriu condena em Ourense, Amorebieta, Segóvia, Alcalá de Henares e no hospital penitenciário de Madrid.

Francisco Fernandes, que tinha sido condenado a umha pena de 30 anos, foi indultado em janeiro de 1959, abandonando a prisom do Dueso, e fixando residência en Xixón.

A Francisco Manuel Bautista todo indica que lhe foi-lhe aplicada a lei de fugas 4 de agosto de 1946, quando a Guarda Civil o levava custodiado num camiom.

Segundo a versom da Benemérita, à altura de Alvarelhos, no quilómetro 489-490 da estrada de Vigo a Villacastín (Segóvia), tentou fugar-se.

“… se arrojó del camión a la carretera con intención de darse a la fuga, por el dicho Cabo Jefe de la escolta no pudiendo arrojarse precipitadamente del camión por ir este sin marcha el peligro de lesionarse hizo sobre el fugitivo un ráfaga de subfusil ametrallador quedando aquel tendido sobre la carretera al parecer muerto. El detenido iba esposado con los grilletes reglamentarios, según manifestaron el referido Cabo y guardias conductores, sentado en una de las tablas del referido camión al lado del Cabo Prieto el que no pudo evitar que diera un salto hechándose por la parte trasera de la carretera”.

O Albino logrou safar da detençom de Requiás repregando-se para a fronteira portuguesa, concretamente para Tourém. O profundo conhecimento do território foi determinante para evitar a sua captura.

Foi detido quatro meses mais tarde pola Guarda Nacional Republicana (GNR) na localidade de Pedras Salgadas, 10 de outubro de 1946, sendo entregue no dia seguinte à Guarda Civil de Verim. Para evitar a sua entrada em prisom e/ou atrasar o procedimento repressivo, no interrogatório realiza umha manobra de distraçom, identificando-se como súbdito argentino, de nome Avelino, nascido em Buenos Aires.

Morte de José Paz Álvarez

No intervalo entre os atracos no dia da feira de Porqueirós e a sua detençom nas Pedras Salgadas, o Albino está acusado pola Causa 487/46 de encabeçar a partida de homens armados que 11 de setembro de 1946 assaltam diversos vizinhos em trânsito polo poldrado do rio Mau, pontelho situado entre a Cela e Pugedo, concelho de Lóvios. E posteriormente domicílios e dous estabelecimentos comerciais das aldeias de Bouças, Guende, Reguendo e a Vila.

Um grupo de sete pessoas após nom localizar no seu domicílio ao negociante de gando, natural e vizinho de Guende, José Paz Álvarez, de 41 anos, dirigirom-se ao forno comunal onde lográrom encontrá-lo. Ao negar a sua identidade tivo lugar umha escaramuça resultando ferido de bala, falecendo posteriormente no seu domicílio. Destacar que esse dia tinha sido a outra grande feira da comarca do Val do Límia, a de Couso de Salas. O falecido levava na sua carteira 2.500 pesetas.

O Informe do capitám chefe da 5ª Companhia da 239 Comandância da Guarda Civil de Cela Nova dirigido ao Governador Militar de Ourense, datado 13 de setembro de 1946, afirma que “al serle preguntado nego su personalidad, uno de los foragidos disparo contra el hiriendole mortalmente, falleciendo pocas horas despues”.

No comércio de Cesáreo González expropriárom víveres, e no de José Fernández Álvarez roupa (20 camisas, 6 prendas interiores, 8 camisolas, 12 guardachuvas), víveres e 1.700 pts em metálico.

Identificaçom do Albino por diversas testemunhas

A declaraçom de José León Fernández confirma a participaçom de sete indivíduos na açom que estamos relatando, “dos de ellos vestidos con uniforme de soldado de Infantería, los demás de paisano llevando todos correaje como el de la Guardia Civil, llevando como armamento una especie de de fusiles ametralladoras y pistola”.

Umha das vizinhas vítimas do roubo, María González Pérez, afirma que “el que sacó su dinero vestía de carabinero, con fusil ametralladora, pistola y en pelo”.

Na rolda de reconhecimento que tem lugar nas instalaçons prisionais de Ourense também José Rodríguez González identifica ao Albino.

Porém, o vizinho de Mugueimes em declaraçom realizada 20 de março de 1947 nega ter participado na morte do tratante de gando, afirmando que esse dia estava no hospital de Bragança, Portugal.

Detençom de Henrique José de Freitas

Passados dez meses da execuçom do Albino, 17 de novembro de 1948, foi detido em Sam Paio, concelho de Lóvios, Henrique José de Freitas.

Polo atestado instruído contra o súbdito português de 28 anos, solteiro, de profissom carpinteiro, natural de Anta, no município de Vila Nova de Famalicão, sabemos que tinha estado no presídio militar de Santarém entre novembro de 1944 e julho de 1945, cumprindo condena de 2 anos e 3 meses por deserçom e extravio de artigos militares.

Perante a inconsistência da acusaçom e polo relatório de vizinhos que certificavam que na data do atraco estava em Portugal trabalhando, foi absolvido 12 de julho de 1950. Mas o Estado fascista nom lhe compensou os 21 meses de prisom.

Executado a garrote vil

O Albino Gómez Rodríguez a finais de 1946, logo de estar encarcerado na prisom de Ourense,  cumpria duas condenas de 30 anos no penal do Dueso, situado no município cántabro de Santoña.

Foi condenado em Conselho de guerra realizado no Salom de Sessons da Junta de Clasificaçom e Revisom da Caixa de Recrutas nº 67 do quartel de Sam Francisco de Ourense.

Treze meses após a sua detençom na vila balneário próxima a Chaves, e quando já cumpria prisom, foi condenado por cinco delitos de roubo a 30 anos de reclusom, e a morte, acusado de “roubo a mao armada”, em Conselho de Guerra realizado em Ourense 28 de novembro de 1947.

A sentença também exige abonar com 20.000 pts aos herdeiros de José Paz Álvarez e restantes “víctimas de los robos las cantidades de que fueron despojados y el valor de los artículos sustraídos”.

A máxima penal capital foi ratificada 20 de dezembro de 1947 polo Capitám Geral da VIII Regiom Militar, sediada na Corunha.

A sua execuçom tivo lugar mediante o cruel e brutal garrote vil, umha máquina dotada de um colar de ferro com um buraco por onde penetrava um parafuso que lentamente quebrava o pescoço do réu. O tempo para provocar a morte dependia da força física do verdugo e a resistência do pescoço do condenado.

Foi aplicada num dos pátios da Prisom Provincial de Ourense, situada na rua do Progresso, na altura oficialmente general Franco, 26 de janeiro de 1948, quando ainda nom tinha cumprido os 34 anos.

O certificado de defunçom expedido às 5h do polo médico civil agregado do Regimento de Infantaria Zamora nº 8, constata como causa da morte a “consecuencia de asfixia por estrangulamiento”.

Pola documentaçom da Causa conhecemos o lugar de enterramento que tivo lugar em Ourense 26 de janeiro. “(…) se procedió a inhumar el cadaver de Albino Gómez Rodríguez, previamente trasladado al cementerio cristiano de esta Población quedando sepultado en el Cementerio antiguo, cuadro tercero, sepultura número 1.555”.

Indiscutível vítima do fascismo

Ainda fica muito por investigar sobre como o Albino Gómez transita da delinquência comum -fruto da extrema necessidade material que caraterizava a sua família, como padecia umha parte maioritária dos habitantes do concelho de Moinhos e do conjunto do Val do Límia da etapa republicana, agravada na posguerra-, ao seu enquadramento na II Agrupaçom do Exército Guerrilheiro de direçom comunista.

Todo indica que no período republicano, e em particular na breve etapa da Frente Popular (março a julho de 1936), nom se implicou politicamente. Que participou na Frente Norte como soldado mobilizado polas novas autoridades fascistas. Que nom contava com a simpatia do novo regime tal como constata o informe elaborado polo alcalde de Moinhos, Adolfo Vázquez Antúnez, dirigido a Juíz Instrutor do Julgado Militar de Ourenze, datado 2 de abril de 1947.

“…  es sujeto de malísimos antecedentes por todos los conceptos, gozando de mala fama a toda la comarca, siendo toda su vida un bulgar (sic) delincuente que terminó atracando a mano armada cunado se le presentó la ocasión”.

Nom sabemos como e quando foi recrutado por Samuel Mayo, o dirigente político-militar comunista também conhecido como “Saúl”, quem organiza com Benigno Fraga Pita, no verao de 1946 a II Agrupaçom do Exército Guerrilheiro da Galiza.

Igualmente ainda nom temos documentaçom, nem suficiente informaçom para sabermos se seguia critérios político-militares nos assaltos dos dias das feiras de Porqueirós e Couso em junho e setembro de 1946.

Similar falta de informaçom para identificarmos Gumersindo Fernández Incógnito, a quem tanto Heine como o Dicionário de guerrilheiros e resistentes antifranquistas “1936-1975 Los de la sierra”, situam como lugartenente do Albino.

Mas embora a sua biografia como combatente da resistência armada antifascista foi mui fugaz, poucos meses, e de existirem cabos sem atar como a identificaçom dos outros seis combatentes que o acompanhavam em setembro de 1946 nos sucessos polos que foi executado, ter duas Causas abertas polo Julgado Militar Eventual nº 2 e nº 3 da Praça de Ourense da Oitava Regiom Militar -as já citadas 297 e 487 de 1946-, a sua reclusom no penal para presos políticos de Santoña, e o Conselho de Guerra que o condena a morte, som argumentos inapeláveis à hora de compreender as motivaçons políticas que provocárom a execuçom do Albino polas autoridades franquistas.

A amnésia imposta polo franquismo nom deixou praticamente registo do Albino Gómez Martínez no imaginário coletivo no seu Mugueimes natal. As diversas fontes consultadas entre os vizinhos desconhecem quem era o Albino, ou no melhor dos casos tenhem leves lembranças.

Mas um dos seus familiares, numha conversa mantida em Ourense 3 de junho de 2024 afirmou que “roubava para dar-lhe aos pobres”, mas desconhecia como e onde tinha falecido.

Hoje demos um passo mais em desfazer o silêncio e a oscuridade, e o nome do Albino Gómez Rodríguez ficará gravado para a posteridade no granito do novo monólito às vítimas do fascismo que será inaugurado 22 de setembro na curva de Fontaboa.

Carlos Morais

Mugueimes, sul da Gallaecia central, 3 de setembro de 2024

Setembro 3, 2024